MULHERES DA MESMA FAMÍLIA RESGATAM PRAZER DE SENTAR EM RODA
Num domingo de tarde de novembro, depois do almoço da família, minha mãe Jeo chamou as irmãs, Neta, Beta e Joli (como se chamam desde sempre) para começarem a produzir seus retalhos para a Manta. Apresentei a cada uma delas a ideia por mensagens, mas falei que seria muito mais rico se conseguissem fazer juntas. E também que poderia conversar com elas em videochamada para explicar melhor o projeto e tirar dúvidas, uma vez que estão no Recife, eu em Lisboa e um mar entre nós.
Estavam bem aplicadas, com retalhos, linhas, tudo em cima da mesa, e as quatro carinhas sorridentes e curiosas, tão familiares para mim, esperando na tela para ouvir mais sobre a Manta. Depois que falei um pouco e que tiraram dúvidas, mostraram para mim um caderno grosso com cara de livro, assinado na primeira página pela minha avó Neuza (de quem herdei o nome), mãe delas, e datado de 1957. Dona Neuza, que sempre foi muito prendada, sabia, entre outras maravilhas, bordar muito bem e muito bordou durante anos. Enxoval de cama, mesa e banho, roupas para os filhos e para ela. Tudo muito bem feito, com muito zelo e amor, como tudo que tocava.
Conheci alguns dos seus bordados, mas nunca tinha visto este caderno e me emocionei. Nele havia várias amostras dos bordados que aprendeu ao longo do curso que fez e acredito que depois disso, com os nomes das técnicas. Uma relíquia, uma preciosidade, um tesouro que a minha vozinha deixou para nós, as descendentes. Minhas tias e minha mãe, apesar de nunca terem treinado muito estes dotes manuais como a minha avó, estavam empolgadas com a possibilidade de tentar fazer alguns deles.
Desligamos e elas colocaram as mãos na massa. No outro dia, minha mãe mandou algumas fotos delas na roda e falou que tudo foi tão lindo. Apreciar o caderno era sentir a minha avó de pertinho. Disse ainda que lembraram de várias histórias, riram e choraram. Tudo isso enquanto começam a planejar e decidir o que fariam com seus retalhos.
As mulheres da minha família sempre estiveram ao alcance das minhas mãos e do meu coração. E todo este acolhimento, segurança, carinho, cuidado e amor incondicional e incansável serão materializados agora na nossa Manta de Retalhos. Só agradeço.
* Por Neusa Rodrigues
Neusinha!
ResponderEliminarQue lindo projeto, que linda partilha!
Faço parte de um grupo de mulheres que iniciou em 2016 em uma vivência na Chapada Diamantina, mais especificamente no Vale do Capão.
Sei o quão poderosa é a egrégora criada em uma roda de mulheres e o quanto somos beneficiadas e acolhidas nesse movimento. Que a manta em produção, promova em cada mulher o encontro sagrado com a ancestralidade e com a essência feminina que habita em cada uma de nós. Aho!
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EliminarQue coisa linda sua partilha e vivência, Claudinha. É o que desejamos para todas as mulheres, sentir esta egrégora. Celebramos com nossa manta <3 Aho!
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