DAS SURPRESAS QUE ENCONTRAMOS NO CAMINHO
Todos mais concentrados nesta parte mais tensa. Com o foco em cada passo, em cada pedra, em cada poça de lama, em cada raiz de árvore que ultrapassa. Uma sensação que para mim é incrível nas trilhas, para mim que sou cuidadora (com tendências a salvadora, confesso e fico atenta), é que só conseguimos cuidar na trilha de nós mesmas (e isso já é suficiente), e, no máximo, apoiar alguém que esteja na frente. Com alguma dificuldade, quem vem atrás.
Mesmo que sejam pessoas importantíssimas na sua vida como seus filhos. Por mais dificuldade que se tenha, há um momento meditativo em que o foco é o aqui e agora. Este estado, esta presença, esta “costura” de passo após passo, sinto bem semelhante à quando fazemos um trabalho manual.
Lembrei da manta, da nossa manta, por alguns momentos e logo na sequência esqueci para não escorregar no caminho. Mas não é que lá no alto, numa as partes da jornada que ainda estava mais tensa, vejo uma árvore enorme. Para mim, assim que vi, passou segurança: iria passar por ela e, se por acaso tropeçasse, teria a velha senhora como apoio. Só que ao passar por ela, a surpresa foi ainda maior. Um quadrado de lã colado nela.
Minha primeira sensação quando vi esta imagem foi de estar próxima às minhas avós. E a Manta de Retalhos veio com força. Primeiro por ser um quadrado. É comum em alguns lugares de Portugal haverem árvores que são envolvidas com trabalhos semelhantes, já vi em vários lugares. Mas não tinha ainda visto neste formato). A beleza e a força de lãs, cores e formas, expostas na natureza, deixadas lá para cumprirem um ciclo, de vida e morte.
Do poder que é saber que passou outro ser humano por ali, talvez pelas mesmas dificuldades, mas, principalmente, vendo as mesmas belezas, aquela mesma paisagem. Um carinho, um conforto, um acalanto de vó. Tive que me equilibrar para registrar este momento, um retalho da minha jornada neste dia. E segui meu caminho com o coração cheio desta linda avó.
* Por Neusa Rodrigues
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