NATUREZA DE VALÉRIA
Recebemos mais um relato lindo, carinhoso, sincero, vindo da natureza (a de fora e a de dentro) de Valéria sobre o processo de construção do seu retalho, suas inspirações e seus sentires para a Manta. Lela, como a chamo desde que me entendo por gente, é uma prima querida, filha de dois seres admiráveis e inspiradores, meus tios-avôs Valdomiro e Iêda, e de uma terra, Palmeira dos Índios, que amo e que é importantíssima na minha história em várias dimensões da minha vida. Também enviou fotos dela em plena produção, feitas pela sua filha Juli, para nos deleitarmos nesta roda:
"Quero dividir com vocês minha jornada até o ´nascimento´ do meu retalho, contribuição para a Manta de Retalhos do Projeto Tanto Mar! Tudo começou no encontro online do dia 06 de dezembro de 2022. Um misto de expectativa, curiosidade, esperança, sentimentos de renovação... e superação! Como coloquei naquela data, trabalhos manuais autorais ainda não tinham feito parte da minha história. Lembro que, quando criança, nas aulas de trabalhos manuais, no colégio, sempre precisava que D. Iêdinha (minha mãe amada), me auxiliasse nas finalizações pois ficavam ´impossíveis´! Fico imaginando hoje, o desafio dessa maternidade!
Quando chegou a vez dos meus quatro filhos desenvolverem suas habilidades manuais para os trabalhos da escola, foram autodidatas, com certeza! (rsrsrsrs). Nessa conversa comigo mesma, lembranças do olhar de criança, onde tudo é possível, prazeroso, belo e ... simples! Reflexo da convivência com minha neta Maria Luísa, que sempre coloca sorriso em meus lábios, mesmo quando não estamos juntas. Como compartilhei no encontro, ela pegou uma folha em branco, fez alguns riscos e pinceladas e finalizou com a frase: “pronto vovó, minha obra de arte está pronta!”. Como não se contagiar com essa visão tão bela da vida! Enfim, começamos nossa jornada.
E, ao longo dos dias que se passavam várias imagens vinham à mente, e que hoje me faz bem prestar atenção: Passarinhos cantando. Até bem pouco tempo morei numa casa que tinha um pé de acerola no jardim, e eu costumava dizer que a Amazônia inteira morava nesse pé de acerola, tamanha a diversidade deles que nos visitavam, todos os dias, e nos encantavam com seus cantos e sua rotina de interação. Adorava observá-los, me balançando na rede da varanda...; As palmeiras da Catedral de Palmeira dos Índios, minha cidade natal. Novamente natureza, origem, terra, índios, história...; Mar, floresta, céu, flores, primatas, peixes, natureza... Essa consciência de como estamos interligados é recente em mim; não foi algo palpável e consciente em minha infância, adolescência e juventude; portanto, não passei adiante, até então, mas Deus sempre encontra a maneira certa de nos tocar e despertar.Pra mim, essa consciência começou através do meu primogênito, quando escolheu ser primatólogo, e hoje procuro melhorar minha interação com a natureza ao meu redor, mesmo que me observe ainda a passos lentos, ficando atenta em também compartilhar o que já despertou em mim. Se tornou um tema muito importante em minha vida. Lembranças de desenhos que fazia na minha infância, quando me deparava com uma folha de papel em branco. Era sempre a imagem de um campo, com uma casa simples (apenas uma porta e uma janela), arvores ao redor, céu ensolarado, estrada com flores, etc. De alguma forma, natureza novamente. Ela esteve presente no meu inconsciente desde sempre; Imagens que vinham e iam..., mas, como materializar?!
Um outro ponto a destacar nesse relato, sendo bem sincera, é que procuro sempre a praticidade no meu dia a dia, talvez reflexo de ser mãe solo de quatro filhos, onde fazer com que o tempo desse pra tudo era questão primordial. Minha natureza é de fazer da forma mais simples, rápida e eficiente. O planejamento, a metodologia, não me atraem. Quando me deparo com algo a fazer, o pensamento já começa a imaginar maneiras mais práticas de alcançar aquele objetivo. (rsrsrs). Com isso, os dias foram passando e as janelas das caronas também. E aí, um belo dia - imagino que faça parte do processo criativo - a praticidade entrando mais uma vez em ação, eureka! Tudo se desenhou na minha mente, talvez no caminho inverso, porque decidi que resolveria todo o material a ser usado em um só lugar, e o que encontrasse lá, moldaria a imagem a ser refletida no retalho.
A premissa da natureza já estava
implícita, então tudo que eu precisava era de componentes que remetessem a isso
da maneira mais fácil e prática possível. Meu retalho representa um dia
ensolarado que tanto amo (quem sabe reflexo dos meus desenhos de infância) com
seu céu azul, seu Sol feliz e radiante a se deliciar com um campo de flores
silvestres a embelezar e se balançar na brisa suave da natureza. Me imagino
caminhando por esses campos, respirando ar puro, tocando e sendo acariciada por
essa natureza, me sentido grata e amada por esse Deus que está sempre a nos
cuidar. Um abraço amoroso em todas!." - Iêda Valéria. Maceió, Alagoas, Brasil,
fevereiro de 2023.
* texto de abertura por Neusa Rodrigues
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