AS CUMEEIRAS

Minha amiga Raquel sempre fala que as minhas tias, juntamente com a minha mãe, são as minhas cumeeiras, aquela parte mais elevada do telhado da casa que faz a sua junção e também promove sua sustentação. Sinto assim também. Elas sempre estiveram muito presentes, amando, vibrando, sorrindo e chorando junto comigo e com minha mãe, em todas as fases das nossas vidas.

Para mim, são exemplos de muito amor, de resiliência e de superação. Mulheres lindas, incríveis, fortes e sábias, muito mais do que conseguem enxergar no espelho ou mostrar para o mundo. Mas eu sei bem, sempre fomos muito próximas. São companheiras fiéis que eu sempre pude contar, fosse qual fosse a situação.

Fui a primeira filha, a primeira neta do lado materno e também a primeira sobrinha. A criança que chega depois de todos adultos e traz a novidade, que renova as esperanças. Sempre honrei e aproveitei muito deste privilégio (e ainda hoje aproveito, não vou mentir). Deixo-me ser amada, cuidada, ninada, acarinhada, mimada, recebo todos presentes e, em troca, tento ser uma boa sobrinha. Espero mesmo conseguir dar a elas pelo menos uma parte de tudo que recebo desde sempre.  

Assim como em vários momentos da minha vida, reuni as três e minha mãe numa videoconferência e falei sobre o nosso projeto Manta de Retalhos. Fiz o convite e elas, prontamente, toparam participar. Ultrapassaram as barreiras de distância física, da tecnologia, do fuso horário, da timidez e estiveram juntas nas nossas rodas online. Agora, chegaram seus retalhos prontos, lindos e cheios de memórias que também são minhas. Só agradeço. Pelos retalhos, pela oportunidade de senti-las tão pertinho, mesmo estando longe fisicamente, e pela manta gigante de afeto e de amor na qual me sinto coberta desde que nasci graças a vocês, minhas tias Neta, Beta e Joli.

Publicarei os depoimentos de como foi para cada uma o processo de produção dos retalhos nesta e nas próximas postagens, na ordem de quem chegou primeiro na família, a começar por Jeosanete (Tia Neta).

Abaixo, a primeira foto é do retalho que fará parte da Manta, com o primeiro bordado de Tia Neta. A segunda, um trabalho feito pela minha vó Neuza do seu livro de modelos de bordado que serviu de inspiração para os retalhos das filhas. 


“Tudo começou, quando Neusinha me convidou para participar do projeto da Manta. A partir daí, fiquei a pensar o que faria, visto que nunca tive habilidade nenhuma para trabalhos manuais! Ao contrário de minha mamãe amada, Neuza Pinto de Holanda, que sempre foi uma sumidade em costura, bordados a mão e à máquina, bolsas de couro, em cultivar plantas e cozinhar gostoso. De repente, veio a inspiração no álbum de bordados dela! Aí pensei: como farei isto, se nunca peguei em uma agulha de bordado! Mas fui amadurecendo as ideias, pesquisando nas aulas de bordados do Youtube e também, peguei umas dicas do ponto caseado com minha irmã Jeolinete. Assim comecei a elaborar o projeto. Iniciei pelo desenho e a cada etapa realizada, ia me enchendo de energia, de alegria, de satisfação e de prazer. A sensação que tive em muitos momentos, era que mamãe estava ao meu lado a me ajudar e incentivar. Sério! Quando concluía uma parte, olhava e pensava: Só mãezinha estando segurando na minha mão justifica eu ter conseguido fazer este trabalho. E assim aconteceu a gestação e nascimento do meu retalho. E finalmente, passo a passo, concluí com um pouco de mamãezinha e um pouco de mim, este retalho tão cheio de sentimentos. Fiquei muito feliz por fazer parte desta manta, que reúne a energia de amor de tantas pessoas”.– Jeosanete Pinto de Holanda, Recife, Brasil, 1º de junho de 2023

* texto de abertura de Neusa Rodrigues


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